Publicado por: Wally | Sexta-feira, Agosto 7, 2009

Anjos e Demônios

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Quando “O Código Da Vinci” veio às telas, em 2006, ele chegou com um estrondo. O bestseller de Dan Brown havia sido lançado há pouco tempo e a polêmica acerca da obra se refletia na ansiedade quanto à versão cinematográfica que, claro, arrebentou em bilheteria. A crítica, nada receptiva, não o acolheu tão bem. De fato, o filme de Ron Howard (Frost/Nixon) tem seus inúmeros defeitos (no geral graças ao script simplório), mas a direção de Howard elevou à obra ao status de entretenimento maleável. A obra que precede o polêmico livro de Brown, “Anjos e Demônios”, acabou levando o título de sequência e chegou este ano ao cinema sem maiores polêmicas, mas com roteiro bem mais polido e intelectualmente instigante. Ao contrário de “O Código Da Vinci”, o novo filme é mais real e pé no chão, trazendo a tona conflitos interessantes acerca da religião e o papel do homem neste meio. E, por focar temas mais humanos e, de fato, mais envolventes, a obra atinge um nível consideravelmente recomendável. Só não mais por trazer vários dos habituais tropeços cometidos pelo antecessor e por ser, em suma, muito parecido em questões de estilo e condução.

Desta vez, o simbologista Robert Langdon (Tom Hanks) vai ao Vaticano após ser chamado para interpretar o assassinato de um físico. Langdon logo se vê, ao lado da filha da vítima, envolto em uma trama conspiratório que coloca a irmandade dos Illuminati como os suspeitos pelo assassinato e o então sequestro de quatro cardeais, logo depois da morte do Papa. O plano da irmandade, como seria de suspeitar, é o resultado do desejo de vingança à igreja, quando esta ainda residia em sua idade das Trevas. Em outras palavras, nada de polêmicas bíblicas ou verdades alternativas. A trama do filme é realmente real, e se sai bem sucedida quando investe nas implicações do título sob seus personagens. Um diálogo em especial, de um cardeal, marca: “Religião é falha porque o homem é falho”. De fato, a religião foi corrompida pelo homem, em todos os sentidos possíveis. E o filme parte desta ambição, de trazer a tona o mal que pode existir dentre o bem. E, a partir disto, inicia outro debate bastante interessante acerca do embate entre Fé e Ciência, dois opostos. E o filme então se enriquece graças à tais atribuições valiosas. É uma pena que, na maior parte das vezes, o filme nos ocupa com explosões e cenas de perseguição, quando poderia estar dando uma ênfase mais exemplificada nos temas que arrebata.

Howard traz, em síntese, os mesmos artifícios usados na condução de “O Código Da Vinci”. Tomadas longas e dramáticas, fotografia iluminada e planos abertos. No geral, nada de muito diferente. A falta de renovação na linguagem pode cansar, e o filme, correndo com quase 140 minutos de duração, pode soar inchado. Mas Howard consegue manter sua atenção, envolver e criar um clima de instigação proveitoso. A ação é bem filmada, como também é o suspense (que ganha ajuda da trilha sonora eficiente de Hans Zimmer, em trabalho muito bonito) e a obra se qualifica como um exercício em entretenimento hábil. O que pode vir a frustrar em “Anjos e Demônios” é a falta de ambição introspectiva. Ou a noção errônea de introspecção profunda. O roteiro, escrito por Akiva Goldsman (Eu Sou a Lenda) – colaborador frequente de Howard e roteirista de “O Código Da Vinci” – e revisado por David Koepp (Ghost Town – Um Espírito Atrás de Mim), traz seus atrativos como os mencionados. O livro de Dan Brown deve ser, na verdade, um ponto de partida bom. Então o roteiro parte de ótimos elementos e discussões humanas e religiosas proveitosas. O problema é que Goldsman e Koepp se contentam em tratar tais virtuosos temas de formas ligeiras, nunca os provocando até o máximo. E, quando decidem se aprofundar, soam um tanto superficiais, como na cena em que traz o Camerlengo Patrick McKenna – muito bem interpretado por Ewan McGregor (O Sonho de Cassandra) – palestrando os cardeais sobre os fundamentos da religião. Uma cena tola que é a síntese do filme. Muito bem filmada, atuada e tocando em temas interessantes de uma forma não tão esperta quanto acredita.

Além de um ótimo McGregor, que cria um personagem fascinante, temos Tom Hanks (Jogos do Poder) sem o mullet e em domínio de sua técnica. Já sua parceira de cena, Ayelet Zurer (Ponto de Vista), é lamentavelmente inexpressiva. Mas o longa traz outros dois desempenhos memoráveis, com Stellan Skarsgard (Mamma Mia! – O Filme) e, em especial, Armin Mueller-Stahl (Senhores do Crime). O elenco une-se à parte técnica como dois aspectos do filme incontestáveis em qualidade. “Anjos e Demônios” conta com bela fotografia, direção de arte exemplar, montagem eficiente e a já mencionada poderosa trilha sonora. Ron Howard é um diretor de imagem, e sua condução extrai o que há de mais belo e transcendente em locações e sequências de ação.

Se “O Código Da Vinci” funcionou graças ao entretenimento revestido sob o absurdo e na direção segura de um cineasta cheio de pompa, “Anjos e Demônios” o supera um pouco ao colocar em meio ao entretenimento gratuito aspirações de um filme sério. Mesmo que, de fato, ele nunca almeje ser um profundo conto sobre a dualidade do homem. Mas nem por isso ele não pode fingir ser. E “Anjos e Demônios” finge muito bem. Te manipula até o último momento e, no final, te faz acreditar que viu uma obra completa. Refletir sobre tudo depois que é o déficit. Então se deixe ser manipulado, e divirta-se. No final, a percepção de defeitos é inevitável. Mas leve para casa também o retrato levemente provocador do filme sobre a religião e os homens que a habitam.

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Angels & Demons (2009)
Direção:
Ron Howard
Roteiro: David Koepp, Akiva Goldsman, baseado em romance de Dan Brown
Elenco: Tom Hanks, Ewan McGregor, Ayelet Zurer, Stellan Skarsgard, Pierfrancesco Favino, Nikolaj Lie Kaas, Armin Mueller-Stahl, Thure Lindhardt, David Pasquesi
(Suspense, 138 minutos)

Disponibilidade | 2 de Setembro nas locadoras.


Respostas

  1. Ainda não tive a chance de ver este, mais o livro é excelente, assim como o filme e o livro ‘O Codigo da Vinci’.

    Abraço Wally!

  2. Também acho que “Anjos e Demônios” funciona ligeiramente melhor que “O Código Da Vinci”, até porque assumiu um tom mais despretensioso que antes não era visto com bons olhos.

  3. Eu não sei o que achei do filme, sinceramente. Assisti uma vez, mas confesso que estava bastante distraído com a companhia rsrsrsrsrsrs. Preciso revê-lo, mas no geral acho que é muito melhor que O Código Da Vinci.

    Abs, Wally!

  4. É melhorzinho que O Código, mas nunca vai muito além, sem dúvida. O livro acaba sendo mais divertido.

  5. Penso assim como você. Anjos e Demônios é um filme manipulador e assim como O Código DaVinci se traveste de uma pretensa qualidade intelectual que na verdade não tem.
    Sobre o elenco, continuo acreditando q o personagem de Tom Hanks sofred e falta de credibilidade e indefinição de seu perfil, o q naum é culpa do ator, é óbvio.

  6. Assisti pela segunda vez ao filme, mas continuei com uma impressão não muito boa do filme, o filme é bem feito sim, otimo elenco e a história é interessante, mas me incomoda o como as coisas acontecem e se resolvem.

    Abraço!!!

  7. Achei uma experiência totalmente dispensável, ao estilo de “O Código da Vinci”. Cansei de gastar grana no cinema para conferir efeitos especiais baseados em teorias de anti-máteria. Explode tudo. E fica por isso.
    O livro, parece ser melhor.
    Abraços!

  8. Eu ADOREI “Anjos e Demônios” porque acho que o Howard corrigiu os erros cometidos, em “O Código Da Vinci”. Ele fez um filme ágil, corretíssimo e de elementos técnicos excelentes.

  9. Talvez eu tenha sido o único que gostou mais do “Código da Vinci”. A crítica estava sendo tão melhor receptiva com “Anjos e Demônios” que eu pensei que o filme fosse diferente, mas na realidade é uma versão mais enxuta, absurda e descontraída que o Código.

  10. Acho “O Código Da Vinci” um bom calmante para dormir, rsrsrs. Mas parece que este é melhor. Na curiosidade para vê-lo em DVD. ;)

  11. Deixei-me ser manipulado mas não me diverti com DA VINCI CODE, então esse filme, só na próxima encarnação! Chega de Dan Brown, socorro! ;)

  12. Acho O Código Da Vinci-livro uma porcaria, mas o filme é uma delícia. Passei longe do livro Anjos e Demônios, e também aproveitei bastante o filme…

  13. Pra ser sincero, Anjos e Demônios é bem melhor do que Código da Vinci, garante bons momentos mas continua sendo um filme pseudo-intelectual. Como ação agrada bastante!

  14. Wally, nessa resenha você se superou, acho que foi uma das suas melhores. Praticamente você falou tudo (quando digo tudo… é tudo mesmo) o que penso sobre o filme Anjos e Demônios.
    Realmente, nesse filme nos deparamos com um roteiro que perdeu seu foco principal, ou seja, a dualidade humana frente à religião e fé, para se vender como entretenimento barato e enfadonho.
    Também concordo com você quando ressalta a brilhante atuação de Ewan McGregor, Armin Mueller-Stahl e Stellan Skarsgard que praticamente salvaram o filme de Ron Howard do completo fracasso, novamente.
    Só não concordo quando fala da Ayelet Zurer. Ela foi, ao contrário do que possa pensar, INTENSAMENTE inexpressiva auhauhauhauhuah.
    Abraço parceiro e continue escrevendo assim. Está de parabéns.


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