Publicado por: Wally | Sexta-feira, Junho 19, 2009

Presságio

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John Koestler é um pai solteiro e professor renomado. No aniversário de 50 anos da escola de seu filho, uma cápsula do tempo é desenterrada onde seu filho encontra um pedaço de papel encoberto de números. John começa a suspeitar quando enxerga uma série de números significativos. Não demora para ele perceber que os números são presságios, que indicaram e indicam acontecimentos trágicos no mundo. Lutando contra a insanidade, John tenta achar uma resposta plausível para o fenômeno e se vê num precipício.

O sentimento de poder sair de uma sessão totalmente surpreendido (e entusiasmado) diante de uma obra que não lhe prometia nada além da mediocridade é uma sensação incrivelmente poderosa. E o novo filme do imaginativo Alex Proyas (Eu, Robô) não só é um filme inesperadamente forte, mas um dos mais eficientes filmes-catástrofes à bater nos cinemas, reunindo uma narrativa interessante e uma parte técnica impecável para não só entreter, mas fulminar a audiência com uma grandeza intimidante. Sim, o enredo é bem implausível e irregular, e pode ser que a trama demore para engrenar. Mas mesmo quando o longa não parece ter muito o que mostrar ou dizer, é perceptível um senso de curiosidade crescente na direção focada e segura de Proyas, que imprime personalidade ao filme ao compor a experiência sempre cheia de referências, sejam estas mitológicas ou bíblicas, e nunca se consolidando a aceitar apenas um gênero. “Presságio” oscila entre o suspense, a ação, o drama e a ficção de maneiras muito intrigantes, transformando a experiência numa bem mais enriquecida e curiosa.

E são esses diferenciais narrativos – e o tour de force da direção de Proyas –  que colocam “Presságio” muito além de um mero blockbuster, ao lhe imprimir uma imagem séria e realmente inteligente em seus detalhes e composições. O filme começa como todo filme do gênero começa, e vai rondando aqueles mesmos clichês e estereótipos até Proyas entregar total ritmo e energia à história, nos envolvendo e instigando diante de acontecimentos sempre fora do normal e detalhes visuais bastante intrigantes. E, quando percebemos, já estamos incorporadas à história e aos personagens de tal maneira que começamos a nos importar de verdade por seus destinos e pelo que está ocorrendo de fato ao mundo. Isso se torna ainda mais pungente na sublime cena cercando o trágico acidente de um avião. A cena é um plano-sequência virtuoso que, ao seguir o personagem de John pelos destroços do avião diante de gritos, sons ensurdecedores e imagens aterrorizantes, consolida o talento de Proyas em conduzir ação e emoção em apenas uma tomada, que ainda denota para um filme a prova de sua virtuosidade técnica – os efeitos visuais e sonoros perfeitos.

Depois desta cena, o filme alça vôo e não te larga, prendendo sua atenção ao conseguir inserir uma atmosfera muito bem arquitetada de paranóia e medo, entregando uma tensão ao filme extraordinária, que serve de atributo para duas cenas em especial que trazem a tona o talento de Proyas. E a trilha sonora reserva um papel essêncial na composição. De Marco Beltrami (Guerra ao Terror), a trilha nunca se submete ao usual e cria arranjos sinistros e tensos que fazem jus a aura que o filme abraça a certo ponto. E, claro, a escolha da música para pontuar a belíssima cena final não poderia ser melhor. A Sétima Sinfonia de Beethoven é a emblemática composição que marca os momentos finais (ousados) do filme com um brilhantismo chave. Alias, ao chegar ao fim, o filme nunca teme em abraçar o absurdo, e para isso é necessário que a audiência saiba que estão diante, de fato, de um filme de ficção-científica, com todas as bagagens. Mas é legal como a condução sombria e sinistra de Proyas sempre nos deixa adivinhando e curiosos diante do que ocorre.

O roteiro escrito á três mãos pode ter, então, algumas irregularidades e tropeços, mas reivindicam o valor assim que largam o usual para encaminhar a audiência por um tom bem mais desconhecido e curioso, e ainda conseguindo deixar tudo bem plausível e coerente. Mas os méritos maiores são de Proyas, que está sempre inspirado e aplica uma mão ora pesada e ora leve que oferece equilíbrio ao longa. Sua cena de catástrofe dentro de uma estação de metrô subterrânea é de impressionar, e é fascinante vê-lo arrancando uma atuação decente de Nicolas Cage (A Lenda do Tesouro Perdido – Livro dos Segredos), que finalmente fez algo bacana depois de cinco desastrosos filmes. Cage tem suas falhas, mas convence. Quem exagera às vezes é Rose Byrne (A Garota Morta), que por sua vez não tem uma personagem das mais coerentes. De qualquer forma, “Presságio” é um filme com méritos o suficiente para lhe garantir uma boa e segura recomendação mesmo para quem não é fã do gênero. Sua discussão acerca de Acaso e Destino pode não representar nada de novo, mas adiciona ao material, que vibra repleto de simbolismos e toques de emoção um tanto convincentes, que reverberam diante de um fim engajado de efeitos especiais. O equilíbrio é essêncial, o filme convence e entretem fervorosamente. Termina ainda com uma sutileza primorosa diante de algo tão absurdo. Isso é talento.

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Knowing (2009)
Direção:
Alex Proyas
Roteiro: Ryne Douglas Pearson, Juliet Snowden, Stiles White
Elenco: Nicolas Cage, Chandler Canterbury, Rose Byrne, D.G. Maloney, Lara Robinson, Nadia Townsend, Alan Hopgood, Adrienne Pickering, Ben Mendelsohn
(Ficção, 121 minutos)

Disponibilidade | 15 de Julho nas locadoras.


Respostas

  1. Olá Wally. Parece que me enganei com relação a esse filme. Muita gente tá falando bem dele e esquecendo até que o Nicolas Cage tem um cabelo ridículo. Vou ver se assisto…

    abs.

  2. Acho que, comparado aos últimos esforços do Nicolas Cage, sem dúvida “Presságio” está à frente de todos. Contudo, não há como perdoar alguns erros do roteiro e até mesmo o fraco desempenho dos intérpretes – especialmente a Rose Byrne, que de repente esqueceu como atuar. Vale mais pelas incríveis sequências de destruição, mérito do diretor mesmo.

  3. O Nicolas Cage não escolhe mais absolutamente nada de bom pra fazer, quase desistindo!

  4. Muita gente criticou este filme, ainda não assisti para ter minha opinião, porém é um tipo de história que gosto muito.

    Abraço

  5. Ansiosíssimo para ver, em Blu-ray. As críticas positivas, como a sua e a de Roger Ebert, atiçam mais que as negativas. De filmes divisivos às vezes surgem grandes e boas surpresas.

    • Charles, o filme vale a pena por possuir méritos que vão além das limitações típicas do típo de filme.

      Vinícius, sei que gostei mais do filme que a maioria, mas adorei mesmo a direção e as cenas de ação. O roteiro e o elenco reservam o negativismo ao filme mesmo, ainda que tenham seus méritos. Espero que Cage continue a fazer boas escolhas.

      Cleber, bem, antes de “Presságio” eu poderia dizer isso. Mas Cage acertou aqui.

      Hugo, eu adoro o gênero e admirei muito o filme.

      Gustavo, a crítica de Ebert foi a melhor que li do filme (ao lado da de Villaça) e acho que eles viram além do que as pessoas normalmente estão vendo. É muito mais que uma fita blockbuster. É ótimo cinema.

  6. não sei bem, mas esse deixei para conferir em DVD.
    deve ser de fato, surpreendente mesmo.
    abraço, Wally :)

  7. APESAR DE MUITOS NÃO TEREM GOSTADO, EU GOSTEI DESSE FILME… DESTAQUE PARA ALEX PROYAS

  8. Eu tenho medo do que Nicolas Cage anda fazendo, sério! Tenho passado cada vez mais longe, mas Presságio parece ser num nível bem melhor que os outros recentes dele. Devo conferir sim!

    Abs Wally!

    • Jeniss, levando em conta que eu não dava nada pelo filme, surpreendeu sim.

      Brenno, concordo.

      Victor, é o melhor de Cage desde “O Senhor das Armas” – alias, o único bom.

  9. Wally, eu adorei Presságio até a metade. Daí pro final desceu vertiginosamente no meu conceito. Mas só pela primeira hora já valeu o ingresso.

  10. Você gostou deste filme mais do que eu, Wally. Apesar de “Presságio” ter uma premissa interessante, acredito que o roteiro se perde dentro de suas próprias armadilhas. No mais, o filme acaba valendo pela excelente direção do Alex Proyas, especialmente nas cenas de desastre.

  11. Me surpreendi com sua nota e crítica. Apesar de está com um pé atras com Nicolas Cage, tenho curiosidade em relação ao trabalho de direção de Alex Proyas, que foi muito comentado, principalmente nas cenas de ação.

    Beijos e tenha uma ótima semana! ;)

    • Brenno, já eu achei o início fraco e começei a admirar mais e mais o filme conforme a metragem foi rolando. Adorei o último ato.

      Kamila, eu acho o contrário. Acho a premissa estranha e a abordagem, apesar de ter seus defeitos, interessante. Mas é Proyas quem transforma o filme no ótimo cinema que é.

      Mayara, Cage finalmente acerta aqui – depois de muito tempo. Proyas é o motriz do filme. Veja sim.

  12. Ñ gostei muito ñ, o filme deixa a desejar no roteiro, e detestei akele final, sem falar q Nicolas Cage, se repete no papel, o kra tinha feito “O Vidente”, só falta fazer um de premonição..rs..tá na hora dele mudar de agente!
    Abs! Diego!

  13. Tenho medo do Nicolas Cage nesses últimos tempos, mas o Alex Proyas é um cara razoavelmente confiável… devo assistir, ainda que com um pé atrás.

    • Dewonny, confesso que o roteiro tem lá suas falhas, mas lembre-se que possui também virtudes, e o final está totalmente de acordo com a estrutura do filme e com seu gênero. Agora, é claro que Cage não voltou aos bons tempos, mas ele não compromete aqui. Acho que “O Vidente” está a mil quilometros de “Presságio”. Aquele sim foi terrível. Acho que Cage acertou no agente agora.

      Wallace, eu também temia por Cage – até ver “Presságio”. Veja sim, é um filme que pode surpreender.

  14. Eu nao me interessei por esse filme pq tenho um pe atras com os ultimos projetos do Nicolas Cage..mas sua resenha me animou um pouco:-)

  15. PRESSÁGIO é um filme polêmico, daqueles que ou você ama ou você odeia. Eu pertenço ao segundo grupo. A história tem um bom começo, com argumento forte e consiso, mas depois desanda e lidamos com um desfecho ridicularmente fora do contexto de todo o enredo. A impressão é de que tentaram surpreender o espectador com algo que ele não esperava de forma alguma. Resultado: bizarrice.

    NOTA (0 a 5): 2,5

  16. Olá pessoal. Assisti e gostei. Várias cenas impressionam, só dessa maneira consegue-se boa renda de bilheteria. O filme tem inspiração, embora apresentado de forma não fiel as escrituras, no livro do Apocalipse do Novo Testamento da Bíblia Cristã. Sem esse conhecimento, é difícil a compreensão do filme.


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