Publicado por: Wally | Domingo, Fevereiro 17, 2008

Renaissance

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Beleza negra

Paris, 2054. Um labirinto onde tudo e todos são controlados e monitorados. Uma grande companhia assombra a cidade, Avalon, que vende beleza e juventude. Após o desaparecimento de uma jovem, Karas e outros detetives começam a investigar, e as pistas apontam para segredos sujos da Avalon.

Atmosférico, denso e ótimo entretenimento, o filme é visualmente um primor e uma visão bem interessante sobre uma sociedade futurística mas nem por isso faltando aspectos da realidade de hoje. O que não falta também é influencia e referencias à inúmeros outros filmes do genero ficção. Apesar da criativa e instigante direção de Volckman, uma verdadeira revelação, o filme te deixa sentindo como se voce já tivesse visto tudo aquilo antes, pedaços de vários outros filmes melhores. É realmente um filme cujo roteiro carece de originalidade, mas funciona por pelo menos tratar bem as questões que levanta, por mais batidas que sejam, e por construir seus personagens genuinamente bem. Mas o show é o visual. Se existe um motivo pelo qual o filme merece ser visto, este é sua estética.

renaissance.jpgLembrando um pouco o estilo noir de Sin City, mas dessa vez em completo formato de animação, o filme é tão intrigante e visualmente satisfatório quanto. A atmosfera é pesadíssima, e garante excelentes momentos de grande carga dramática e diversos enquadramentos geniais, méritos do diretor. Possui algumas cenas realmente divertidas, como a persequição de carros, e outras arrepiantes como uma que se passa no telhado de um prédio alto, envolvendo sacrifício. Os tons da fotografia essencialmente preta e branca é maravilhoso, e ajuda ao dar autenticidade ao conto noir de ficção. Não só isso, mas o diretor atinge momentos poéticos simplesmente com imagens da chuva. Pena que o roteiro não se revele completamente consistente quanto esses outros aspectos do longa.

Ainda assim, é impossível tirar os olhos da tela e deixar de apreciar o espetáculo. Entretem, deslumbra e satisfaz. É do típo de filme destinado a conquistar a audienciar simplesmente pela sua criatividade visual, e nada mais. Mas parecem ter levado isso literalmente ao pé da letra, esquecendo de entregar um tratamento mais luxuoso ao roteiro, que se revela oco comparado à alguns truques que Vockman apresenta ao longo da sessão. Mas o enredo intriga, os personagens satisfazem e a trama não decepciona. Só incomoda mesmo elementos da narrativa, um certo déjà vu uma vez ou outra mas nada que realmente tire o brilho e a intensidade do filme.

Recomendo, portanto, mais que muitas animações do ano passado que ganharam atenção a mais, enquanto esse ficou limitadamente lembrado, no limbo. Acho que não só merece uma olhada, mas acho que é um filme visualmente influente, mesmo que em outros aspectos ele seja o contrário – influenciado. É um feito artístico maior que O Homem Duplo de Richard Linklater. Mas lembrando que o filme de Linklater, ao lado da estética, possuia um ótimo roteiro. Foi isso que faltou em Renaissance, e é o que limita suas chances de se tornar mais discutido, lembrado e celebrado. Mas nem por isso deveríamos esquece-lo.

[Renaissance, 2006] Dirigido por Christian Volckman. Escrito por Alexandre de La Patellière e Mathieu Delaporte. Adaptado por Jean-Bernard Pouy e Patrick Raynal. Com Daniel Craig, Patrick Floersheim, Catherine McCormack, Romola Garai, Ian Holm e Laura Blanc. [Animação, 105 minutos]

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Respostas

  1. Gostei da comparação com “O Homem Duplo”. São duas ficções científicas que conseguiram ser transformadas em animação de maneira exemplar. Prefiro o do Linklater, como você disse tem um roteiro melhor, mas sem dúvida o resultado visual de “Renaissance” é bastante impressivo.

    Abraço!

  2. Wally, nunca tinha ouvido falar desse filme. Aonde você encontrou-o?

    De qualquer maneira, fiquei super curiosa em conferir esse trabalho. Talvez até possa fazer uma sessão dupla: “Renaissance” e “O Homem Duplo”.

  3. Hmm… Bela dica! Não conhecia. Valeu! Mas, particularmente, não gosto de O HOMEM DUPLO.

    Abs!

  4. Adorei o trabalho de animação sobre as imagens reais de “O Homem Duplo”, mas acredito que não é um estilo muito agradável de se conferir repetidas vezes, sob a pena de enjoar facilmente do mesmo. E se Sin City sofresse o mesmo processo de “Scanner Darkly” provavelmente as imagens seriam muito próximas às de Renaissance postadas por você. Porém, não conheço este filme, e como Kamila, adoraria saber onde o encontrou.
    Abraço!

  5. Vinicius, é exatamente isso mesmo. ;)

    Kamila, ele teve estréia no Brasil ano passado, mas aqui chegou bem atrasado, em circuito alternativo extremamente limitado. Ele (e O Homem Duplo) valem a pena serem vistos, mesmo que seja em DVD.

    Otavio, não sabia disso. Eu gostei bastante. Acho um filme bem inovador e filosófico. Esse Reinaissance já é mais visual que tudo. Vale a pena ver.

    Weiner, eu adoraria ver mais filmes no estilo de O Homem Duplo, duvido que eu irei me enjoar. Sobre Renaissance, ele tem muito da atmosfera noir de Sin City. Como disse à Kamila, é um filme que estreiou no Brasil ano passado e chegou aqui atrasadíssimo, em circuito alternativo limitado. Vale a pena ver quando chegar em DVD.

    Ciao!

  6. Depois de ler seu texto me interessei pelo filme. Não o conhecia, mas a primeira impressão foi agradável, vou procurar essa película.

    Abraço!!!

  7. […] era um filme de ação complexo, inteligente e incrívelmente maduro. A abordagem de Daniel Craig (Renaissance), emotiva e intensa, do personagem, trouxe à ele uma humanidade incontestável, e sua paixão com […]

  8. […] deixam de vez o caráter infantil e abraçam o teor adulto completamente, como os recentes “Renaissance“, “A Lenda de Beowulf” e “Persépolis“. A nova empreitada do gênero, […]


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